sexta-feira, outubro 24, 2014

reportagem spielberg :: cavalo de guerra

Reportagem em janeiro de 2012 para o jornal Destak.


REPORTAGEM
O génio de Spielberg na primeira pessoa
Estivemos em Londres para falar com Steven Spielberg sobre o seu novo filme ‘Cavalo de Guerra’, uma «história de amor» entre um rapaz e o seu cavalo, em plena 1.ª Grande Guerra, onde morreram milhões de pessoas e cavalos. Ouvimos o mestre do cinema sonhador Steven Spielberg sobre tudo: carreira, vida, cinema e... cavalos.

João Tomé

É um dos homens que, através dos seus filmes, mais pessoas influenciou e “tocou” desde que o cinema é a 7ª Arte. Determinado, sonhador, criativo e de uma humildade e dedicação surpreendente, foi assim que vimos e ouvimos o único Steven Spielberg, no início de Janeiro, em Londres, numa conferência de imprensa a falar sobre o seu novo “rebento”: Cavalo de Guerra.

Habituado a nos fazer sonhar, o realizador e produtor norte-americano por trás de pérolas do cinema como ET, Tubarão, Indiana Jones, A Lista de Schindler, também tem a sua quota parte em filmes de guerra.

Mas esta é uma «história de amor» que se passa numa guerra, a 1ª Grande Guerra, por isso «é universal e para todas as idades, dos 8 aos 80».

Spielberg fala com paixão dos seus filmes, das suas histórias. Foi a produtora de sempre, Kathleen Kennedy (com quem também falámos) que ficou cativada com a peça de teatro sobre o jovem que vai para a guerra para recuperar o seu cavalo, Joey. Depois de contar a Spielberg, ele sobe logo que a queria realizar, mesmo antes de ver a peça e ler o livro de Michael Porpugo, com quem também falámos.

Isto porque a filha, Destry, 15 anos, «é cavaleira de competição» e mal soube da história disse: «Tens de fazer o Cavalo de Guerra! Tens de o fazer para mim!». Após ver a peça, Spielberg admite que «fez-me chorar e gostei mesmo muito».

O cavalo que une pessoas
«O Joey tem uma forma de unir as pessoas, especialmente pessoas dos dois lados da guerra», explicou Spielberg, que na pesquisa ficou surpreendido com um facto que desconhecia: «morreram quase tantos cavalos quanto pessoas [15 milhões]».

«Foi o fim do cavalo como instrumento de guerra, o início da era da máquina – o tanque, o avião –, tudo convergiu na Primeira Grande Guerra, que todos diziam que ia ser a ‘guerra para acabar com todas as guerras’», explicou entusiasmado este «amante de história», que se diz mais «europeu do ponto de vista histórico» e admite mesmo: «era a única disciplina em que era bom aluno».

O realizador de 65 anos, lembrou a sua proximidade com a guerra. «O meu pai, que faz 95 este mês, combateu na II Grande Guerra. Cresci a ouvir histórias de guerra e os meus primeiros filmes de 8mm eram na maioria filmes de guerra!» Até porque «não há melhor maneira de testar uma pessoa, do que atirá-la no meio de uma guerra».

Não filmar é morrer
Spielberg, para quem «querer realizar algo é uma sensação inegável», «bem diferente de produzir». E admite realizar para além dos 100 anos, como Manoel de Oliveira? «Não quero parar. Sempre disse que só páro quando o meu amigo Clint Eastwood quiser desistir. Como isso não vai acontecer...».

Tempo ainda para explicar que nem todos os realizadores de Hollywood se regem por números e dinheiro, até porque é um «processo colaborativo» e «nós só queremos ir e contar as nossas histórias. É uma tortura que adoramos e pela qual os nossos antepassados passaram, na era dourada de Hollywood. O objectivo é o mesmo».

Spielberg é Spielberg e isso significa que, desde Tubarão, faz o que quer. Por isso aumentou o orçamento de Cavalo de Guerra só para poder filmar em Devon, localidade onde se passa o filme e poder ter, sem efeitos especiais, «o céu incrível de Devon», numa homenagem a realizadores como John Ford e Howard Hawks.

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CENAS DIFÍCEIS COM CAVALOS
O mais difícil de filme foi mesmo uma altura em que o cavalo Joey fica literalmente preso no meio da batalha entre britânicos e alemães, em arame farpado, num dos momentos mais belos do filme de Spielberg. «Tivemos alguns segundos de cada vez para gravar porque o cavalo queria sempre levantar-se», diz Spielberg que garante: o arame nunca magoou o cava-lo.

Não faltaram cavalos na rodagem e só para fazer todos os movimentos de Joey foram mais de 10, cada um com o seu tratador «de Espanha, Austrália, América e Reino Unido». Mas só dois deram mesma a “cara” e mesmo «improvisação»: Abraham e Finder (que já tinha estado em Seabiscuit).

TUBARÃO, O PONTO CHAVE
«O ponte chave na minha carreira foi Tubarão». Diz Spielberg, que admite que antes era «realizador por encomenda, depois podia fazer o que quisesse, que havia quem passa-se o cheque. Por isso pude fazer um filme que antes foi recusado e ridicularizado: Encontros Imediatos do 3.º Grau».

GERIR TEMPO DISPONÍVEL
«Os pontos baixos da minha carreira são relacionados com a gestão do tempo. Sentir que não tenho tempo suficiente para família e amigos. Tenho sete crianças, tenho de equilibrar tudo». O que não o afecta são as críticas e a bilheteira. Spielberg homenageou ainda o ‘seu’ compositor desde há 40 anos, John Williams, o colaborador mais importante.

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Michael Morpurgo inspirou-se em veteranos
O escritor Michael Morpurgo inspirou o seu livro de 1982 nas histórias que três ex-combatentes da I Grande Guerra, de Devon, lhe contaram sobre a importância dos cavalos na guerra. Em 1914, 10% das tropas britânicas montavam a cavalo, em 1917 eram só 2%.

Nomeação de ‘Cavalo de Guerra’ para os Óscares
Estar na lista para Melhor Filme é algo que Spielberg não esperava por este filme familiar. Desde 2006 (’Munique’) que um filme seu não era nomeado e o último Óscar (tem três) foi em 1999 (’O Resgate do Soldado Ryan’).

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Entrevistas ao elenco: "Ninguém diz não a Spielberg"

Falámos com o principal guionista de Cavalo de Guerra, Richard Curtis, e com parte do elenco, no nosso périplo em Londres e resumimos aqui em poucas linhas os muitos minutos de conversa.

ENTREVISTA A RICHARD CURTIS
Richard Curtis foi convidado para ser guionista de Cavalo de Guerra, graças ao filme ‘Amor Acontece’

Curtis só podia dizer «sim»Richard Curtis é um dos argumentistas e realizadores mais talentosos do Reino Unido. Escreveu e produziu pérolas como: ‘Quatro Casamentos e um Funeral’, ‘Bean’, ‘Notting Hill’, ‘O Diário de Bridget Jones’ e realizou ‘Amor Acontece’ e ‘O Barco do Rock’. Falámos com ele na passadeira vermelha, na antestreia do filme.
Como é que Steven Spielberg o convenceu a juntar-se a este filme?
Bem, vamos “levar” de volta essa pergunta para si. Se o Steven Spielberg fosse ter consigo e dissesse 'Gostarias de escrever um filme para mim?'... A resposta foi fácil. Mas quando ele me perguntou, ainda pedi duas semanas para ver se conseguia fazer bem o trabalho, porque o que eu não queria mesmo era fazer um filme com o Steven e estragá-lo.
Qual foi a sua contribuição para o guião?
O grande trabalho que o Steven quis que eu fizesse, por ser uma grande história e os cavalos ocupam grande parte dela, é ter a certeza que todos os seres humanos tinham vidas credíveis e completas, em vez de apenas fazerem o que tinham de fazer ao pé dos cavalos. Ele pediu-me isto por causa do filme 'Amor Acontece' onde tive de contar histórias muito depressa sobre grupos de pessoas, o meu trabalho foi acrescentar detalhes a todos os personagens.

Ele intervém muito?
O que acontece é que ele é brilhante como parceiro de trabalho, porque é tão fértil e frutuoso. Eu diria que devia de acontecer isto às personagens, e ele dizia, essa é uma boa ideia, e que tal estas sete outras ideias. E eu simplesmente escolhia a melhor e fingia que era minha (risos).

Reescreveu muito durante a filmagem?
Não, eu não fiz muito disso. Estava a fazer outros trabalhos. De vez em quando ia lá para me tirarem a minha fotografia, graças a ele.

Havia pressão para tornar o filme divertido?
Não, o meu trabalho era tentar fazer o filme minimamente divertido sempre que podia. O Steven quis que desse esse contributo.

Quais são os seus novos projectos?
Estou a realizar um filme este ano sobre viagens no tempo. É sobre pessoas que usam as viagens no tempo como se fosse um meio de transporte normal.

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Jovem passou da ‘miséria’ para estrela de filme de Spielberg
Uma nova descoberta: Jeremy Irvine«Não podemos fingir com os cavalos, eles percebem tudo portanto temos de ser autênticos», explica o jovem inglês Jeremy Irvine, 21 anos, uma descoberta que Steven Spielberg antevê poder vir a ter um futuro tão risonho como o de Christian Bale (que dirigiu ainda adolescente para o filme Império do Sol e na altura também nunca tinha feito um filme, como o próprio Jeremy). Jeremy explicou-nos que, se não tivesse sido Spielberg e Cavalo de Guerra, teria desistido de ser actor:_«Estive dois anos sem fazer nada, ninguém me queria e eu nem ganhar experiência conseguia». Depois chegou Spielberg. «Vimos centenas de jovens actores para serem Albert, mas ele tinha aquela qualidade que se destaca dos outros.
Ninguém tinha aquela sensibilidade e a capacidade de comunicar, mesmo em silêncio», admite Spielberg, que gosta de trabalhar com pessoas sem experiência e autênticas – «o meu trabalho é fazer com que elas sejam elas próprias». 
A viver algo com que nunca sonhou, Jeremy admite que Spielberg foi ajuda preciosa e que nunca o esquecerá.
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Dupla britânica levou cavalo Joey para os campos de batalha
Hiddleston e Cumberbatch pela batalhaTom Hiddleston (entrou em ‘Thor’ e ‘Meia-Noite em Paris’) faz de capitão Nicholls, que compra o cavalo Joey para o levar para a guerra. Já Benedict Cumberbatch (entrou em ‘Expiação’ e no recente ‘A Toupeira’) é o major e amigo de Nicholls. Ambos protagonizam a 1ª cena de batalha do filme. Hiddleston admite ter ficado surpreendido pela forma sensível e emocional com Spielberg o dirigiu na batalha, no meio de 120 cavalos e tanta adrenalina. Cumberbatch diz mesmo «ele é um artista na rodagem, sempre a surpreender».
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Emily Watson faz de mãe e esposa de dois homens teimosos
Watson vence medo de cavalosÉ uma das actrizes britânicas mais versáteis. Emily Watson (de ‘Ondas de Paixão’, ‘Dragão Vermelho’, ‘Gosford Park’, entre muitos outros) é Rose, a corajosa mãe de Albert que tem de lidar com a teimosia do marido e o amor do filho pelo cavalo Joey. A actriz, que tinha medo de cavalos, ficou emocionada «pela forma como os cavalos trazem ao de cima a humanidade das pessoas no meio da guerra». E revela: «Spielberg apanhou um valente susto ao cair numa das trincheiras cheias de água».

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