sexta-feira, outubro 24, 2014

entrevista peter jackson

Fevereiro de 2010. Breve entrevista a Peter Jackson sobre o filme Visto do Céu e à jovem actriz Saoirse Ronan para a SIC Notícias (programa 35mm) e publicada no Destak.


Entrevista a Peter Jackson
«O livro tal como o filme dá uma visão de conforto sobre a morte»
Cinco minutos de entrevista em Madrid, esticados até aos seis, graças à simpatia de Peter Jackson (os responsáveis espanhóis estavam determinados em acabar cedo) deram para fazer algumas perguntas sobre o filme e o pós-Senhor dos Anéis a um dos realizadores mais importantes dos últimos anos. 

João Tomé

Foi muito diferente criar um mundo épico como o «Senhor dos Anéis» e mostrar um mundo simples, de metáfora emocional, em «Visto do Céu»?
A principal diferença vem na fase de escrita do argumento, porque eu sou sempre co-escritor dos argumentos que fazemos [Peter escreve sempre com a mulher Fran Walsh]. Para mim é uma parte muito importante do processo, porque significa que estou a par das razões porque tudo aquilo que está no filme lá está, de todas as decisões que foram feitas no argumento. E é interessante, porque, como realizador, o nosso trabalho é literalmente pegar no guião e imaginá-lo com vida. Já quando estamos no local de filmagem, estamos a dirigir os ângulos da câmara e o design. Por isso, sei que pode parecer estranho, mas não há grande diferença quando estou a realizar, quer seja buracos de Hobbits, na Terra Média, ou no Pennsylvania [em Visto do Céu], continuo apenas a pensar na forma de contar a história com a câmara, a lente e os actores. A grande diferença está na escrita do guião, porque aí estamos com a cabeça totalmente imersa num tema muito diferente, no caso deste filme. Em vez da luta para destruir o Anel e o monte Doom, agora lidamos com o pós-vida de uma jovem de 14 anos que foi assassinada e que quer resolver o seu crime a partir deste estranho estado psicológico de sonho em que se encontra. Por isso, sim, é completamente diferente, e manifesta-se especialmente na fase do argumento.

O que o cativou mais no livro que inspira o filme, já que esta é uma história de uma morte, mas que mostra o valor da vida…
É isso mesmo, é uma visão positiva. É o valor da vida, é o valor do amor. Eu pelo menos vejo-o mais como uma história de amor. O livro, tal como o filme, dá uma visão de conforto sobre a morte. Lembro-me que ao lê-lo não pude deixar de conter as lágrimas, porque a história emociona, só faço filmes que me emocionem. Também não queríamos fazer um filme sobre um assassinato, e esse é um dos motivos pelos quais não mostramos o momento da morte da Susie Salmon no ecrã, porque iria desequilibrar o filme. Tornar-se-ia conhecido como um filme que partia de um assassinato e eu não queria isso. Um assassinato brutal não é aquilo que eu quero ver num filme que também é uma forma de entretenimento. Queria fazer um filme intenso e que sabe cativar, sobre a Susie que tem de se habituar à sua realidade alternativa [uma espécie de Céu], ela já não está no seu corpo. Sobreviveu, é imortal, é uma das mensagens de esperança do filme, mas está num estado de consciência diferente.

Existe muito suspense, muitos movimentos de câmara intensos e de cortar a respiração, muito ao estilo de Alfred Hitchcock. Ele foi uma influência?
Tenho a certeza que o Hitchcock é uma influência, não necessariamente de forma consciente. Mas como realizador, simplesmente penso que sou o resultado de todos os filmes que já vi (risos). Não podemos evitar ser influenciados por tudo e adorei filmar as cenas de suspense. Foi uma área que não explorei propriamente no Senhor dos Anéis ou no King Kong, esse suspense puro e duro. E adorei fazer isso aqui, foi divertido e de facto dá ares a Hitchcock.



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«A Saiorse é incrível»
Apesar de Mark Wahlberg, Rachel Weisz ou Susan Sarandon estarem no filme, a protagonista é a jovem irlandesa Saoirse Ronan. «Estávamos a ter dificuldades para encontrar a Susie, pensámos que seria preciso 400 audições nos Estados Unidos, quando recebemos um DVD no correio», explica Jackson. A gravação no quintal da casa da irlandesa Saoirse «convenceu-nos de imediato, ela é incrível, tem um naturalismo que é um dom» e nem o facto de ter sotaque foi impeditivo.


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CONVERSA RÁPIDA COM... Saoirse Ronan

Nomeada para um Óscar pelo filme «Expiação» aos 13 anos, aos 15 a irlandesa volta a surpreender num grande papel.


Como definiria a personagem da Susie?
Isso foi o que tentei fazer durante muito tempo e tive muitas dúvidas sobre se estava a pensar na Susie de forma correcta, se a estaria a criar da melhor forma. E embora tivesse os outros actores a ajudar-me, como actriz precisava de interiorizar a personagem. A Susie é daquelas personagens que vamos percebendo. E à medida que estava a atravessar esta "viagem", que íamos filmando, ia percebendo-a mais. Portanto, demorou um pouco, até porque ela muda muito no decorrer do filme e nós temos de mudar e aprender ao mesmo tempo.

Peter Jackson deu-lhe muita independência para adaptar e criar Susie?
Sim, ele quis sempre sugestões dos actores e até de outras pessoas como o meu pai. Tudo que pudesse melhorar a personagem e tornar a Susie tal como ela é no livro. Por isso senti que tinha liberdade. Ajudava-me muito quando as pessoas falavam para mim durante as cenas. Nunca ensaiámos em demasia, íamos para lá e íamos limando a performance entre as cenas.

A nível profissional, o seu pai, que é actor, ajudou-a?
Sim. O facto de ele ser actor ajudou, sem dúvida. Inicialmente porque disse ao agente irlandês dele para me tentar arranjar algumas coisas, isto antes de ser actriz, e ele conseguiu. Fiz um pequeno papel numa série dramática irlandesa de baixo orçamento, que agora é bastante bem sucedida, curiosamente. O pai foi descoberto como actor quando estava em Nova Iorque e isso também ajudou depois a ter trabalhos nos Estados Unidos.

Já esteve nomeada para os Óscares, já pensou a quem agradeceria se vencesse?
Não, mas se algum dia vencer, obviamente que teria de agradecer ao meu pai e à minha mãe, à Academia por votar em mim, acho (risos), a agentes e basicamente às pessoas que me ajudaram no filme.

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